quinta-feira, 6 de março de 2008

Muito além de uma data comercial: mulheres de luta

O dia da mulher, historicamente comemorado em homenagem as trabalhadoras norte-americanas que morreram carbonizadas dentro de uma fábrica de tecidos em Nova Iorque, durante uma manifestação por redução da jornada de trabalho e aumento salarial. Na época, com o fervor da revolução industrial e o nascimento do movimento feminista, a data realmente era lembrada pelo sofrimento e a brutalidade do acontecimento. No entanto, com o passar do tempo, o dia 8 de março passou a ser utilizado pelo comércio e até mesmo desvinculado da luta pelo direitos femininos.
A historiadora e ex-militante do movimento estudantil em Palmas com destaque em sua atuação, Eloyna Ribas Rodrigues comenta sobre a idéia da mulher como companheira do homem, a partir da bíblia que prega o nascimento da mulher a partir da costela do homem, bem como a fraqueza da mulher diante do pecado o que a responsabilizou pela perda do paraíso. Para ela, isso não desvalida a importância da mulher, já que ela assume a função do cuidado com o homem.
Além da religiosodade, ela aborda a história de povos antigos e a atuação da mulher, que em algumas sociedades era totalmente isolada dos acontecimentos políticos e sociais. Em todo o período histórico, questões de vestimenta, de comportamento, de funções e cargos sempre foram objetos de estudos posteriores e Eloyna slienta que mesmo muito oprimida em algumas sociedades, em outras exercia papéis fundamentais ao andamento da família e de próprios segmentos fora.
A historiadora acredita que é importante que tanto a mulher quanto o homem compreendam as diferenças existentes, mas que saibam pontuar a questão de igualdade de direitos, já que com o passar do tempo a mulher chegou às indústrias, ao comércio e a política, exercendo relevantes atividades tal qual o homem. Mas com isso, ela lembra também que conquistando alguns espaços a mulher arrisca deixar falhos os outros que são de ordem biológica, como a educação dos filhos.
Assim que Eloyna comenta o surgimento do movimento feminista ela já adianta que o termo deve ter certos cuidados, uma vez que a massa confunde a liberdade com a liberalidade total no que diz respeito a sexualidade. “Isto, junto a um sistema econômico opressor abre espaço para que a mulher desvalorize sua imagem e sua essência, não é a igualdade sexual que vai libertar a mulher”, diz. No entanto, ela afirma que apenas com o movimento é que surgiu a luta para a desvinculação do preconceito sobre a inferioridade feminina.

A mulher indígena
Na aldeia indígena de Palmas é muito saliente na fala do cacique e na própria relação interpessoal a democracia como princípio. Dentro deste molde, a mulher indígena é valorizada e respeitada.
O cacique Ermínio dos Santos, que tem como vice-cacique uma mulher, relata que numa comunidade vivem homens e mulheres e por isso, ele considera tão importante que elas estejam representadas. “Assim como o homem tem direitos, a mulher também tem, é isso que eu tento passar para todas as famílias daqui”, garante. Ele ainda ressalta que não é por ser vice, que ela perde autonomia.
Na divisão do trabalho, por exemplo, na colheita comunitária do feijão, tanto homens quanto mulheres são convidados a trabalhar, no entando o cacique afirma que cada um é livre e se a mulhere prefere ficar em casa ela pode ficar, mas que é bem vinda ao grupo se quiser trabalhar na roça.
A vice-cacique Irene Dias Mendes se mostra muito satisfeita por estar a frente de sua comunidade, já que segundo ela, sempre foram homens que exerciam o papel de cacique e vice. “Eu me sinto maravilhosa, porque posso conversar com as mulheres, elas se sentem muito a vontade”, comemora. Na comunidade, conforme ela, não acontece discriminação. “Se eles são capazes nós também somos”, salienta. Através das atividades de saúde, as indígenas se reúnem e conversam a respeito da situação da mulher.
Irene mora há 27 anos em Palmas, desde que se casou com um indígena palmense, foi agente comunitária de saúde, agente indígena, se formou em auxiliar e técnica de enfermagem e finalmente se disponibilizou para a eleição como vice-cacique. “Acho que a mulher deve participar”, comenta. Ela tem cinco filhos com o marido que é professor indígena. Ela finaliza com uma frase, que segundo ela, é o que norteia suas atividades. “Posso ser aquilo que você é, sem deixar do eu sou: uma mulher e indígena”, conclui.

A mulher quilombola
Maria Arlete Ferreira da Silva tem 64 anos e criou nove filhos com o marido Rui Barbosa Nunes da Silva. Ela tem um endereço de e-mail e articula pensamentos rapidamente sobre os mais diversos assuntos. É a típica dona de casa, mas se engana quem acha que ela fez isso a vida toda.
Maria é formada em filosofia. Na infância que diz ter sido boa, ganhou estudos no Colégio Puríssimo Coração de Maria, o Bom Jesus de hoje e que na sua época era colégio interno onde somente filhas da alta sociedade e dos fazendeiros estudavam.
Ela é líder da comunidade quilombola Adelaide Maria Trindade Batista, acredita na importância da mulher e lamenta o fato de que a mulher de sua comunidade sofra duas discriminações: a de gênero e a de cor. Ela comenta sobre a capacitação das mulheres negras em diversas áreas do conhecimento e salienta as ações exemplares de mulheres que lutam. “Isso mostra o potencial criativo e transformador de organizações.
A mensagem de Maria Arlete que é também presidente do Conselho Municipal de Saúde, é de coragem às mulheres. “Lutar sempre, desanimar jamais. Porque sem lutas não há vitórias. Meus parabéns a todas as mulheres, sem distinção de raça ou cor”, finaliza.
LARISSA MAZALOTI
Matéria públicada no Jornal Folha de Palmas em 07 a 13 de março de 2008

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