terça-feira, 4 de março de 2008

8 de março: uma vitória a mais do capitalismo


LARISSA MAZALOTI
laricomunica@gmail.com



“Para este dia das mulheres a loja X preparou a promoção Y com descontos em até WW%.
Chance como esta, só mesmo para homenagear você, mulher, neste dia tão especial.”

Em Palmas, falar sobre capitalismo, opressão, machismo, alienação é coisa de louco, coisa de “vermelho”, de socialista. É utopia discutir as agressões do sistema às pessoas, porque afinal, “é assim mesmo, não vai mudar”. Falar que o capitalismo oprime a mulher, por exemplo, é coisa de feminista, e feminismo é um termo que ainda soa pesado em certos meios sociais. O conceito de feminismo é, para muitos, coisa de mulher mal amada, mal comida e em alguns casos, sapatão, porque o feminismo é encarado como o desejo da mulher ser igual ao homem e por, na história da luta feminista terem passado mulheres não tão delicadas quanto as fêmeas devem ser. As referências ao movimento feminista não deixam de ser também, parte da opressão e do conservadorismo que é inerente ao perfil do capitalista, entre outras características como a discriminação, o preconceito e o desrespeito.

O dia 8 de março não é Dia Internacional da Mulher porque, exatamente nesta data alguém descobriu como a mulher é bonita, sensível, guerreira porque além de gerar vidas, cria os filhos, cuida do marido e é a fortaleza da família nos momentos difíceis enfrentados pelo macho na luta fora de casa. Neste dia, há um século e meio mais de 100 operárias norte-americanas morreram carbonizadas dentro de uma fábrica. Não foi um acidente. Foi covardia de policiais e patrões que depois da revolução industrial, viram acontecer a primeira greve liderada apenas por mulheres. Jovens em idade de estudo, adultas, mães, filhas, esposas que reivindicavam redução da jornada de trabalho, não por serem preguiçosas ou baderneiras, mas pelo simples fato da exploração do capital.

O que um operário recebe nunca é justo, porque o patrão sempre recebe muito mais. Existe a mais-valia, existe o lucro, existe a injustiça.

Este acontecimento tem muito pouco a ver com a questão de independência da mulher. Trabalhar fora é tido como uma das conquistas preciosas, sempre é claro, concedidas pelos homens. Mas se engana a mulher que coloca uma outra mulher para limpar a casa e cuidar dos seus filhos, enquanto sai cedo para trabalhar, tem um almoço corrido onde pouco pode conversar com a família e acaba sempre cuidando das últimas providências do almoço e encaminhando outras para o resto do dia, volta para o trabalho, chega em casa cansada e ainda continua sendo quem tem toda a organização da casa, filhos e marido nas mãos e acha que essa é a sua independência Infelizmente eu exploro minha mãe, que tem esse ritmo de vida e serei brevemente explorada pelo meu filho por já estar também nesta rotina. Estes são os vícios do contexto capitalista – a mulher-mãe-esposa é quem tem que fazer a comida, dar ordens a outra mulher que fica em seu lugar. Portanto, infelizmente, não somos independentes ou lutadoras: somos escravas de um sistema que engole nosso tempo, nossos ideais, nossas lutas verdadeiras.

O feminismo é ainda um movimento afastado da sociedade, já que na pauta de assuntos estão pontos que agridem a pregação católica e cristã. A própria campanha da fraternidade deste ano, é infelizmente uma grotesca investida contra a liberdade do ser humano e da mulher, e está em fervorosa discussão nos coletivos e organizações de mulheres, inclusive de católicas, como pode ser visto em (http://catolicasonline.org.br). Tratar o aborto como um direito da mulher que deve ter a assistência do Estado é um absurdo, além de estar assombrado pela idéia do pecado. Os métodos contraceptivos, não aceitos pela igreja geram, na maioria das vezes, debates de senso comum em que conseguem se encontrar justificativas para tal retrocesso. Isso, do que está ligado a mulher, sua saúde e sua liberdade, porque ainda restam assuntos como pesquisas com células tronco e outros confrontos com a ciência.

Ser feminista não é ignorar as diferenças que há entre homens e mulheres, que já começam no aspecto biológico. Homem tem pênis e espermatozóide, mulher tem vagina, óvulos e um órgão capaz de abrigar um outro ser humano. A mulher possui glândulas mamárias, capazes de alimentar exclusivamente com o leite, uma criança por seis meses. Portanto, ser feminista é essencialmente respeitar estas diferenças, que além da biológica incluem outras mais, no entanto, portar os mesmos direitos humanos, trabalhistas e sociais que o homem. O que querem as feministas, não é o desleixo com o corpo, com a pele, com as roupas, mas sim, que estas preocupações venham depois que uma mulher, seja ela, branca, negra, indígena ou de qualquer descendência seja admitida numa função por mérito de suas qualidades e competências e que estas, não sejam desmerecidas por questões de gênero – por ser mulher.

A luta do feminismo não é para que numa propaganda de cerveja, apareçam homens semi-nus para que não seja só a mulher explorada pela imagem, mas sim, que não se compare uma garrafa de cerveja com uma mulher: gostosa. Que quando uma mulher se destaque em qualquer instância, não seja porque ela tem peitos maravilhosos e uma bunda que ...hummm. Mas essa luta não é travada contra os homens. A questão de gênero é um caminho na luta de classes. É luta de classes também, porque não só o homem explora e oprime a mulher, mas a própria mulher explora e oprime outras mulheres, mais pobres, mais jovens ou mais velhas, com menos instruções de conhecimento.

O capitalismo se apropria das fragilidades da sociedade em todos os sentidos. Numa data de luta este sistema consegue promover o esvaziamento político, a alienação. São subvertidos os valores, subestimados os sujeitos, é esquecida a história. A mulher sente-se contemplada com flores, poesias, cumprimentos, presentes e promoções no comércio. O sistema brutal e velado de opressão agradece por tamanha e cega modéstia.

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